sábado, 3 de novembro de 2018

O Confronto do Século: Sr. Absoluto X Sr. Relativo

Marcio Gil de Almeida
Teólogo e Pedagogo

Certo dia, no Parque Poliesportivo da Lagoa, em Itapetinga-BA, em um momento de descontração, assentados em um dos bancos, debaixo de uma bela árvore com a sua sombra confortante, dois senhores conversavam entusiasticamente. Eram os amigos, Sr. Relativo e o Sr. Absoluto. E como era de costume, mais um encontro e um debate desafiante, um verdadeiro confronto. O encontro estava marcado para às 10:00 h. O Sr. Absoluto chegou primeiro, às 10:00 h em ponto, e o Sr. Relativo chegou às 10:10 horas. Então começaram a conversarem como bons amigos.

- Amigo, você está atrasado. O horário marcado era às 10:00 h. Disse o Sr. Absoluto.
- Não cheguei atrasado, pois ainda estamos em 10:00 h, só passou 10 minutos. Enquanto não completar 11:00 h, ainda será 10:00 h. Disse o Sr. Relativo.
- 10:00 h são 10:00 h. 10:00 h não são 10:10 h. Se 10:00 horas fosse 10:10 h, não haveria identificação diferenciada. Afirmou o Sr. Absoluto.

Isto foi só foi o inicio de um longo debate desafiante. E então, o Sr. Absoluto fala ao Sr. Relativo:

- É por isso que agente não se entende. Você sempre estar fora de prumo.
- Não é bem assim... Eu interpreto como um grande pensador, Leonardo Boff: “1Todo ponto de vista, é a vista de um ponto”. Afirmou o Sr. Relativo.
- Acredito que o senhor estar equivocado. Noto que és muito ambicioso. Devido a isto pergunto: Qual o alcance do “ser” relativo? Perguntou o Sr. Absoluto.
- Tudo é relativo, meu estimado amigo. Respondeu o Sr. Relativo.
- Vejo que és mui presunçoso e contraditório. Da forma como pensas estás decretando a minha extinção. Seria eu “o finado”, Sr. Absoluto? Percebo que não, estou muito vivo. Comentou o Sr. Absoluto.
- Suas palavras são pretensiosas. Será que o amigo ainda não percebeu que estás morto? Não vejo como possa abater os meus argumentos. Mas, como sou relativamente humilde, pode começar. Declarou o Sr. Relativo.

Então, o Sr. Absoluto passou a discursar ousadamente. Afinal de contas, se o Sr. Relativo estivesse correto, o Sr. Absoluto, simplesmente não teria o seu lugar entre os vivos.


- Quero iniciar, declarando, que o ponto de vista a partir de um ponto, mostra uma parte de um todo, podendo ser relativizado a sua interpretação. Todas as partes, individualmente, têm a sua existência absoluta. O todo dá sentido completo e absoluto ao “ser”. Todas as partes juntas mostram a realidade tal como ela é.

Não existe relativo sem o absoluto. Só podemos compreender o relativo pela referência do absoluto. É como compreender o preto na relação com o branco. Da mesma sorte ocorre em relação ao bem e o ao mal. Mesmo que alguém relativizasse tudo, pergunto: Ele relativizaria o quê? Relativizaria o relativo? Claro que não... O relativo já é relativizado por si mesmo. O relativo se identifica com o relativo e o reconhece como tal. O que ocorre de fato é que existe o relativo e o absoluto. E que o amigo, Sr. Relativo, é um ditador e quer ser o único. Percebe-se que querem relativizar tudo. Entendendo que, supostamente, tudo foi relativizado. Entende-se que algo foi relativizado e que era absoluto antes de ser relativo. Ora, então, podemos dizer que o absoluto existia. E se existia o absoluto, é porque era uma realidade. O relativismo só pode continuar a existir se continuar relativizando o absoluto. Logo, o absoluto existe e é uma realidade, ainda que seja para os relativistas relativizá-lo. De qualquer sorte o absoluto continua a existir.

Quando alguém diz “tudo é relativo”, está criando uma nova modalidade de absoluto. Se tudo é relativo, é porque se identifica como absoluto. Logo, não é lógico o argumento da não existência do absoluto. Existem coisas relativas e absolutas. No universo há lugar para ambos. Relativizar tudo um erro de lógica. Vamos supor que só existisse o relativo, não teríamos certeza de muitas coisas. Quando temos certeza estamos trabalhando com o absoluto. Vou citar alguns objetos ou situações:

1- A existência não pode ser relativizada. Ou as pessoas existem, ou não existem. Não é lógico oscilações nesta questão. Ou cada um existe de fato, ou, simplesmente, não existe. É absoluta a existência ou a inexistência. Tem que haver definição absoluta. A existência não pode ser um ponto de vista movido por relatividade. É questão de realidade absoluta. A existência é uma realidade cognitiva. Supondo que se relativize a existência, poderemos concluir que seria inútil o sentir, o pensar, o agir, o ler, escrever etc. Além disso, seria loucura gastar tempo para procriar, educar filhos, casar, ter um casamento feliz, construir, lutar por futuro melhor, passar num concurso publico, ser graduado, organizar a sociedade etc. Não crer na absoluta existência do “ser”, é negar a si mesmo, é negar o poder de percepção, é ser contraditório e ser louco. Conversa bonita, argumentações mirabolantes não podem negar a realidade mais básica.

2- Há coisas dentro da ciência que podem ser interpretadas como relativas e outras não. Uma pessoa não pode argumentar que uma adição possa resultar em subtração por motivos culturais. Na matemática, as formulas tem regras e estas são seguidas dentro de uma lógica inflexível. Numa adição, se os dados que alimentam a formula forem os mesmos, sempre serão os mesmos resultados. Para ser diferente o resultado, os dados informados deverão ser diferentes. Mesmo quando uma formula traz um resultado fracionado, sempre seguirá o mesmo princípio. Se os dados são os mesmos, sempre terão os mesmos resultados. Isto é absoluto. Por exemplo: Se na formula coloco os dados 2.5 + 2.0, o resultado sempre será 4.5, independente da cultura do povo. Se o resultado de uma adição não aumentar o valor porque questões culturais, não se pode afirmar que é a mesma matemática. Poderá ser uma matemática com outros princípios, com outra lógica e em outro mundo que não entenda as leis da física e da matemática do mundo civilizado. Se você for viajar para a lua, qual a matemática que você escolheria para fazer os cálculos: a matemática cultural ou a matemática que segue os princípios da racionalidade?

3- imagine que possamos ver uma casa apenas de uma lateral e pela sua frente. Nesta vista teríamos uma visão de duas janelas na lateral, uma parte da frente feita de vidro com uma porta. A interpretação das partes vistas é clara: uma sala e dois quartos. O que não foi visto passa a ser especulados e relativizados. Em outro momento visualizamos todos os lados da casa. Seja por fora ou por dentro tudo é investigado. Agora, com uma visão completa e absoluta da casa, descobrimos que ela possui dois quartos, uma sala, uma cozinha, uma área de serviço, um quintal e uma piscina subterrânea com acesso via escada no quintal. Não há como dar outra descrição, é a única, é absoluta. No relativo você pode especular a largura da casa sem o instrumento de medida. Diríamos, então, que a largura da casa possa medir 20 m. Mas, se for utilizado uma fita métrica, será encontrado 25,5 m de largura. A largura exata é de 25,5 m, não há mais e nem menos, é absoluta.

- Mas, aí posso dizer que existem micro pontos na fita métrica que mostra o relativismo. Rebateu o Sr. Relativo.
- Imagine que na fita métrica, entre o centímetro nº 01 ao centímetro nº 2, possua infinitos micro pontos. Então, seria razoável, nesta linha de raciocínio, dizer que existe micro pontos infinitos e que jamais poderia chegar ao centímetro nº 2, já que a quantidade de micro pontos seria infinita. E como isto não condiz com a verdade dos fatos e com a realidade, tudo não passa de um grande engodo. Não existe infinito micro pontos entre o centímetro nº 1 e o nº 2. Pois, isto estaria dizendo que não há fim. O que existe de fato é um há número enorme de micro pontos que talvez tenhamos ou não, tecnologia para contá-los. Perceba, que se você diminuir o zoom existe tecnologia para chegar ao centímetro nº 2. Basta pegar o dedo e num segundo você vai atravessar o espaço entre o centímetro nº 1 ao centímetro nº 2. Com certeza podemos medir. Isto é absoluto.
- Em tudo isto, meu caro, a certo grau de relativismo. Afirmou o Sr. Relativo.
- Se você diz que há certo grau de relativismo, pergunto: Se certo grau é relativo e nos graus restantes, como são? Veja só... Se eles não são relativos, é porque são absolutos. Até em sua flexibilização estou presente. Respondeu o Sr. Absoluto.
- Você sabe que eu tenho me revelado competente para relativizar tudo. Relativizo os valores, a ciência, a realidade e a verdade. O que defendo é fácil as pessoas acreditarem, pois não exijo deles coisa alguma. Considero-me um libertador. Continuo a dizer o que meus seguidores dizem: “Tudo é relativo” e ponto final. Finalizou o Sr. Relativo.
- O que faz é enganar os homens, pois são tendenciosos e fácil de manipulação. Muito vivem fora da realidade por tua causa. Mas, sei que no fundo, bem lá no fundo, você gosta de mim. Pois quando diz “tudo” está se lembrando de mim e mostrando o meu valor. E a outra coisa, é que a expressão “tudo”, me faz lembrar, que você de relativo não tem nada. Você tem o discurso de relativo, mas na verdade é absoluto. Um absoluto com posições diferentes das minhas. E ponto final.

Depois desta conversa profunda cada um foi embora e prontos para continuar fazendo o que cada um faz de melhor: Absolutizar e Relativizar. E quanto a nós, devemos colocar um cada no seu lugar e não seguir modismo com marketing de ciência.