domingo, 5 de janeiro de 2014

O Sal dos Pastores - Parte I - Liderança


Marcio Gil de Almeida
Teólogo e Pedagogo

“Vós sois o Sal da terra; e se o Sal for insípido, com que se há de Salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.” Mateus 5:13

Nestes últimos anos tenho observado coisas que aos cristãos de 25 anos atrás nos teriam como distanciados da fé, do avivamento, da vida cristã etc. É possível que cristãos de 25 anos atrás conceituassem os evangélicos atuais, pastores e a Igreja, como distantes dos interesses do Reino de Deus.

Quando me converti a Cristo em 1985, os jovens da minha igreja tinham a admiração de muitos descrentes da sociedade. A moral dos crentes era admirável, um forte testemunho de Cristo e ninguém era possuído de pavor de vender para um crente. Hoje certos crentes com os seus testemunhos são um desserviço. Aumentou o número de crentes, aumentou os problemáticos e os falsos crentes. Não importa se não são a maioria, pois a maioria leva a fama injusta.

Eu me lembro que os pastores tinham a sua preocupação em cumprir as prioridades do Reino de Deus e havia um respeito aos mesmos da sociedade que os honravam sem piscar os olhos. A palavra de um pastor era valorosa. Os crentes do passado eram diferentes e a sociedade os via como diferentes. Eles eram diferentes porque acima de tudo defendiam os seus valores e a sua fé. É verdade que haviam falhas e exageros nas exigências, mas eles eram o que diziam ser e isto era acompanhado de um custo alto. Estes defendiam os seus valores independente de vantagens quaisquer, inclusive, favores políticos.

Quando lemos em Mateus 5:23 nos vemos na multidão que temos de ser Sal. Quando isto ocorre perdemos a visão de nós mesmos. Neste momento particularizo o ser “SAL” para os pastores. Por que foco nos pastores? Os pastores recebem maior honra, logo devem ser mais cobrados. O povo é cópia ou o clone do seu pastor. O povo recebe do pastor os ensinamentos verbais e de testemunho de vida. Eles aprendem sem perceber os conceitos, valores e até os hábitos imitam, se tiverem muito contacto com o seu pastor. Se  o pastor prega chutando o púlpito, como já aconteceu, as suas ovelhas vão aprender a pregar como ele, chutando o púlpito. Ele ensina na sua fala e em sua vida prática sobre política, e assim, o povo irá repetir. Se ele não se importa, se dar ou não apoio político a ladrão, tão pouco o povo se importará. O povo é o que o pastor é. Há muitos anos, certo pastor famoso disse que os evangélicos iriam crescer muito, mas a qualidade não seria boa. Será que isto hoje é uma realidade? Se for uma realidade, qual  seria o por quê? Olhem para os pastores deles, é assim que são. Não quero colocar a culpa dos pecados das pessoas sobre os pastores, cada um que pague pelos seus próprios pecados, mas os pastores levam o peso de muita responsabilidade. Conheço muitos pastores que ensina e vivem corretamente e o povo é uma vergonha, assim como o contrário, também, é verdade.

Nesta primeira parte vou discorrer sobre um único ponto com os seus subpontos. Vejam o primeiro ponto:

O Sal dos pastores em sua liderança.

Ser líder não é fácil. Tem um preço pessoal e um desgaste grande em toda sua alma. O pastor é líder, é  humano e ele a certa e erra. Assim, o ser humano a certa e erra. Ele sabe que liderar é influenciar e não cabe ditadura. Exercer a autoridade não nos torna superiores ou donos da verdade. A Bíblia nos ensina que os pastores devem guiar os rebanhos pelo exemplo. Em I Pedro 5:2-3, diz: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho.” Quando não há exemplo, o SAL é insípido e pra nada serve. Infelizmente, aqueles que não dão exemplo, entra nas portas da manipulação, da mentira, do desrespeito e da ditadura. É claro que também, ditadura pode vir por ideologia ou por incompetência. Eles fazem isto para se manterem no cargo de pastor presidente com o objetivo de continuarem a receber os benefícios. Eles se esquecem que a questão não é estarem à frente de um rebanho para permanecerem no ministério pastoral. O Ministério Pastoral não é cargo. Há aqueles que estão no cargo de pastor e não tem o ministério pastoral. Da mesma forma que há aqueles, que não têm cargos de pastor, mas são pastores.

Ser líder indica liderar por influência em todo o seu ministério. A final de contas, exemplo em quê? Na justiça, no amor, na misericórdia, na verdade, na fé, na paz e na Palavra de Deus.

1- O Sal da influência pastoral na justiça. 

O Sal do pastor tem que ter justiça. E o que é justiça? Justiça é o pastor dar ao outro o que é dele e o mesmo receber dos outros, o que lhe pertence. Ser líder justo nos recurso para com o grupo e demais obreiros ou pastores. Ser justo na distribuição da honra, nas oportunidades, nos cuidados, na atenção etc. Nós pastores temos que perguntar à nossa consciência se realmente estamos sendo justos com a igreja e a nossa família. Saiba que as escrituras nos ensina que se não julgarmos a nós mesmos, os outros nos julgará.  Lembre-se, quando houver conflito na igreja, o seu Sal da justiça estará sendo usado ou os homens estarão pisando no insípido Sal? Não quero aqui dizer que a igreja, também, não comete injustiças com os seus pastores. Julguem a si mesmos...


2- O Sal dos pastores no amor

Amar é fazer o melhor possível para si e para o próximo.  O bem que quero a mim é o bem que desejo para o próximo. A oportunidade, o respeito, a valorização, o cuidado, o reconhecimento que desejo para minha vida é a mesma coisa que desejo para os demais. No amor desejo a justiça e a misericórdia para o próximo se colocando no lugar do outro.


3- O Sal dos pastores na misericórdia

Misericórdia significa “ser favorável”. É com o Sal da misericórdia que nos tornamos favoráveis, mesmo para quem não merece tanto. É com este Sal que perdoamos as ovelhas ingratas, injustas e abusadas que nos agridem e nos tiram o que é justo. É com misericórdia que não tomamos tudo a ferro e fogo. Aprendemos a relevar coisas pequenas e até erros grandes conseguimos ver ali a oportunidade de uma mudança positiva. Só com o Sal da misericórdia conseguimos ver a possibilidade de uma mudança e de um futuro diferente para os miseráveis, impuros, prostitutos, ladrões, assassinos, mentirosos e corruptos. É usando a misericórdia que nos tornamos flexíveis, diplomatas e bondosos.

4- O Sal dos pastores na verdade

A palavra “Verdade”, no grego aletéia, significa “ aquilo que se é, independente da mera aparência”.  Neste Sal da verdade, o pastor não precisar ser outra pessoa, ele precisa ser verdadeiro. Ele precisa ser ele mesmo e não um projeto de pastor que os outros esperam.  Caráter é crucial, mas estilo e forma de liderar é uma questão individual. Precisamos ser um só, dentro de cada contexto, a mesma pessoa. Ser o que somos igualmente a todos. Não importa se o pastor está tratando com rico ou pobre, famoso ou desconhecido, com os seus próprios interesses ou com interesses do próximo, ele sempre é o mesmo, verdadeiro como deve ser. Os seus valores são os mesmos perante qualquer um e em qualquer lugar. Aquele que é verdadeiro é simples. O simples é logo descoberto o seu coração e caráter. Quem tem o Sal da verdade não vive de aparências...

 5- O Sal dos pastores na fé


Os pastores devem ser exemplo de fé. A fé cristã é mostrada nas Escrituras Sagradas abrangendo o sobrenatural e o racional. A fé do pastor só pode Salgar de fato se for equilibrada. Ele não pode crer em tudo o que se dizem. Por exemplo: O pastor não pode ser guiado por profecias, a profecia serve para confirmar o que Deus já tem falado ao seu coração. O pastor é guiado por fé nas Escrituras Sagradas que nos ensino o equilíbrio entre o racional e o sobrenatural. As declarações de fé podem ser ousadas, no entanto não podem ser loucas. A fé cristã é sobrenatural, contudo não é louca. Devemos tomar cuidados com os desafios de fé e ao mesmo tempo  temos de tomar cuidado com o outro extremo, a incredulidade. Lembrando que a nível de confiança em Deus e nas Escrituras Sagradas é total, mas nas pessoas é comum e limitada.
 

     6- O Sal dos pastores na paz

O pastor tem que ser pacificador, não provocador de guerra e nem pode ser “besta”. Não pode usar o atributo do Sal em ser pacificador para não entrar em atrito por justiça. Muitos estão usando o atributo de pacificador para se calarem com o “ar de prudência e de sabedoria”. Exemplifico da seguinte maneira: Os cristão estão sendo mortos aos milhares no mundo. Então, certo pastor que tem influência nacional fica calado com a desculpa de ser “ponderado”. Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, pegou um chicote, quebrou barracas, fez um escândalo no templo de Jerusalém por estar acontecendo uma profanação. Às vezes confundimos ser pacificador com conveniência.

      7- O Sal do pastor na Palavra de Deus

O Sal do conhecimento (informação e compreensão) da Palavra de Deus é fundamental na vida de um pastor. Contudo, mais importante ainda, é obedecer. Nestas Escrituras encontramos respostas para nos posicionarmos. Em geral, os pastores que tem posicionamentos sólidos, foram os que tiveram um bom discipulado. O pastor que busca o Sal da excelência do domínio da Palavra de Deus, deve fazer um curso de teologia. Saber pesquisar na línguas originais das Escrituras Sagradas, hebraica e grega, nos leva a entendimentos profundos, a encontrarmos o extraordinário e a alcançar conhecimento de causa.

As ministrações do pastor devem ser baseadas na Palavra de Deus e todos os recursos devem vir para enriquecer. Estas ministrações bem contextualizadas, ligadas ao cotidiano do rebanho, com a realidade do seu país e do mundo.

Tudo visa ao pastor ser um instrumento de Deus para as pessoas conhecerem a vontade de Deus, terem comunhão e a servirem ao Senhor Jesus Cristo.


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