A terminologia esquerda X direita é precisa quando indica posição geográfica em relação a um marco qualquer, ou na morfologia. No entanto, em ciências humanas, principalmente no Brasil, é cada vez mais uma simplificação pouco inteligente das teorias e da realidade para sequestrar a racionalidade do discurso (e das práticas) políticas e econômicas. Se em sua origem, na revolução francesa, fez sentido, certamente tal sentido se perdeu e há necessidade premente de redefini-las à luz dos sóis ideológicos, pondo tudo às claras, dentro dos marcos teóricos que definem cada uma das principais categorias do espectro político. Este é o caminho para a desconstrução da armadilha a que foi reduzida a questão.
Para que possamos discutir um assunto qualquer com alguma propriedade, com honestidade intelectual, é fundamental definir o sentido das palavras, dos conceitos. Quando o assunto envolve palavras e conceitos que funcionam como um caminhão baú em que vão se acomodando diversos adjetivos de uso intercambiável e significado genérico, tal necessidade se torna inescapável para quem quer clareza e liberdade de pensamento.
Que esta simplificação emburrecedora aconteça no embate político partidário é triste mas compreensível, uma vez que os grandes movimentos políticos (de todos os matizes) tratam “o povo” como massa de manobra lhes acenando com um futuro glorioso (e isto se faz com um discurso simplista, maniqueísta, ciente de que “o povo” é pouco afeito a sutilezas). No entanto, em ambiente universitário tal prática é um reducionismo tosco do qual não pode sair nada de bom.