terça-feira, 9 de outubro de 2018

A Mutuca e o Leão.

Cochilava o leão à porta de sua caverna no momento em que a mutuca chegou.
– Que vens fazer aqui, miserável bichinho? Some-te, retira-te da presença do rei dos animais!
A mutuca riu-se.
– Rei? Não és rei para mim. Não conheço tua força, nem tenho medo de ti.
– Vai-te, excremento da terra!
– Vou, mas é tirar-te a prosa – disse a mutuca.
E atacou-o a ferroadas com tamanha insistência que o leão desesperou. Inutilmente espojava-se e sovava-se a si próprio com a cauda ou tabefes das patas possantes. A mutuca fugia sempre e, ora no focinho,ora na orelha, ora no lombo, fincava-lhe sem dó o adunco ferrão.
Farta, por fim, de torturar o orgulhoso rei, a mutuca basofiou:
– Conheceste a minha força? Viste como de nada vale para mim o teu prestígio de rei? Adeus. Fica-te aí a arder que eu vou contar a toda a bicharada a história do leão sovado pela mutuca.
E foi-se.
Logo adiante, porém, esbarrou numa teia, enredou-se e morreu no ferrão da aranha.
Moral da história: São mais de temer os pequenos inimigo do que os grandes.


Fonte: LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1960