quarta-feira, 19 de maio de 2021

Burrice - Fábula de Monteiro Lobato

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas .
Dizia o primeiro :
-Caminhemos com cuidado, pois a estrada é perigosa.
O outro retorquiu:
-Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.
-Nem sempre é assim . Onde passa um pode não passar outro.
-Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem .

-Nem sempre é assim ...-continuou a filosofar o primeiro.
Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera .
-E agora ?
-agora e passar a vau (numa corrente de água).
O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga ia se dissolvendo ao contato com agua; conseguiu sem dificuldade por pé na margem oposta.
O burro da esponja fiel ás suas ideias ,pensou consigo:
-Se ele passou, passarei também e lançou-se ao rio.
Mas sua carga, em vez de ser esvaziar-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
Moral da historia :não imite os outros ...

Fonte: LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1960.