quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Teologia em Crise



     “A palavra Teologia não ocorre nas Escrituras, embora a idéia esteja bem presente; no uso grego secular, Theologia significa as discussões dos filósofos a respeito de questões divinas. Platão chamava as historias dos poetas a respeito dos deuses de “teologia” e Aristóteles ensinava uma divisão triplece das ciências: a física- o estudo da natureza, a matemática- estudo dos números e a teologia- o estudo de Deus. Aristóteles considerava a Teologia a mais importante ciência, visto que seu assunto, Deus, é o mais sublime das realidades.” (ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico da Igreja Cristã Vol. III. São Paulo: Editora Vida Nova,2003)
Tomás de Aquino afirmou que a “Teologia é a rainha das ciências”. Hoje vemos no mundo que a teologia está presente não somente entre cristãos, mas em várias religiões. O mundo percebe a sua presença e ela trás influencia em diversas áreas da sociedade. Não importa o local, o contexto e a forma, a Teologia, sempre está presente.

Em muitos países a Teologia é levada a sério em sua total importância. No Brasil é lamentável o que vemos. Noto que tivemos avanços, no entanto, estamos longe do ideal. A possibilidade e a realidade dum curso de teologia reconhecido pelo MEC não trouxe a valorização esperada do curso de teologia. Li em um site acerca duma faculdade teológica (seminário) que mostrar a sua classificação na qualidade do seu curso pelo MEC, classificação B. Isto me deixou muito feliz e é claro que tenho que reconhecer o valor desta classificação, mas e daí? Isto está longe de nos tornarmos reconhecidos devidamente pela comunidade acadêmica, econômica, jornalística e a sociedade em geral. A qualidade dum curso teológico não deve ser limitada aos padrões do MEC. Existem cursos em instituições teológicas com seriedade tão boa quanto aos reconhecido pelo MEC. Acredito que devemos defender todos os cursos teológicos quer reconhecido pelo MEC ou não... Há lugar para todos e espaço para todos. As diferenças são necessárias para cumprirmos a missão teológica que defino da seguinte maneira: 1 - extinguir a ignorância teológica, 2- contribuir com a construção do Reino de Deus na Sociedade, 3- ser instrumento salutar espiritual, psico-social e político na igreja de Cristo e 4- ser instrumento revolucionário social com uma consciência cristã. No entanto, percebo que deveria haver uma nomenclatura diferenciada dos cursos reconhecidos pelo MEC para com outras instituições que por motivos outros, não são reconhecidos. Esta opinião deve ao fato do padrão curricular ser diferenciado. Isto quer dizer que a depender do que se trata, de qual é o objetivo do curso, certos cursos terão mais eficiência do que outros. Afirmo que isto é independente de qual seja a instituição.
As dificuldades do seguimento teológico cristão surgiram com a própria antipatia e incompreensão ao cristianismo, desde a época dos pais da igreja, na qual, pessoas que se utilizava de filosofias para defenderem a idéia de que o cristianismo era prejudicial, e uma praga para a sociedade de então. Justino Mártir usou o conhecimento bíblico-filosófica e experiência de vida cristã com o intuito de formar uma teologia apologética, onde defendia o cristianismo e o colocava numa posição de honra social e religiosa.

A Igreja Católica, tanto beneficiou a teologia como a prejudicou. Na época da renascença, os humanistas chegaram a estudar os Textos Sagrados em suas línguas originais(grego e hebraico) e constataram, na época, a maior defensora da teologia estava em contradição quanto às Escrituras Sagradas. Desde o surgimento da Igreja Católica ocorreram vários fatos que trouxeram desgastes para esta instituição e, consequentemente, à Teologia. Lembrando, que a centralização em Deus, não quer dizer descaso com o ser humano.
A guerra dos 30 anos, que protestantes e católicos se mataram, trouxe desvalorização para a Teologia: Jesus pregou a paz, mas a religião trouxe a morte.
 
Com o Iluminismo, a razão não poderia admitir a possibilidade do sobrenatural, espiritual, do milagre e da existência de Deus. Deus não podia ser levado a um laboratório... No iluminar da razão uma nova religião assume o trono da consciência dos homens. Ela se chama ATEISMO. E o TEÍSMO não teria como sobreviver. A Teologia trata do estudo acerca daquilo que foi revelado por Deus a respeito da sua própria Pessoa e de sua Obra. Entretanto, a religião da “RAZÃO”, nos mostrou que o único conceito de teologia possível seria o estudo das coisas que não existem. Diante disto, homens inteligentes e cultos, não poderiam jamais admitir a valorização e a existência da teologia. O século dezoito foi muito difícil para a teologia. Todavia, graça a Deus que Teólogos inteligentes e cultos encararam o desafio e ainda estamos aqui... Não importa se não seguiram os nossos conceitos. Se hoje, ainda estamos em pé, devemos a Teólogos polêmicos e que para muitos eram hereges. Eles fizeram alguma coisa...
 
No decorrer dos séculos sistemas de governos anti-religião, anti-fé, anti-Deus, e finalmente, anti-teologia; tentaram, mas não conseguiram destruir a TEOLOGIA.
Hoje em dia, no Brasil, os evangélicos têm dado grande contribuição à Teologia, ao mesmo tempo, são os que mais prejudicam... Enquanto tem um grupo que a edifica, o outro a destrói. Um a valoriza, o outro faz pouco caso. Um a busca, o outro rejeita. Um diviniza, o outro a diaboliza. Um usa para trazer honra para a Igreja de Cristo, o outra não a usa e traz vergonha com tantas aberrações insensatas, loucuras e desonras. Os evangélicos têm sido um grupo de grande contribuição para esta nação, todavia há aqueles que nos envergonham. E são estes que são lembrados pela sociedade, imprensa, políticos e governos. Eles associam a teologia aos evangélicos que não têm coerência. Lideres evangélicos sem formação teológica são a maioria e eles estão na frente de rebanhos. São lideres que formam o testemunho teológico. Por isso que muitos dos que estão conosco, estão doentes; são estes que confundem espiritualidade com espiritualismo. Estes trazem um a tremendo desvalorização à teologia.
 
Uma outra situação é relativo à limitação de espaço econômico na sociedade. Aqueles que fazem o Curso de Teologia reconhecido pelo MEC, pagam caro e ficam muito limitados. Há pouco espaço profissional e o eclesiástico é complexo. O paradoxo eclesiástico, onde deveria haver a imediata absorção destes homens preparados por vocação e por formação, não se leva em conta a formação teológica em boa parte das igrejas. E por incrível que pareça há igrejas que consideram a teologia como algo carnal e diabólico. É claro que isto é fruto de ignorância. Estes dizem: Para que teologia, mesmo?.. Eu não tenho tempo para teologia, o meu tempo é para joelhologia. Sabe como é que é... não é irmão???” Falar de teologia apenas como vocação religiosa é algo fora da realidade. A Teologia passou esta fronteira vocacional; também, está no profissional. Mas, a maioria a utiliza em sua vocação. Quem cursa teologia, a faz por vários motivos. Um teólogo pode ser pastor, padre, escritor, professor e outras ramificações; não dá para ser limitado ao ministério eclesiástico.

A qualidade de alguns cursos é de dar tristeza e frustração. Alunos me perguntam: “Vale a pena estudar por correspondência?” Respondo da seguinte forma: Depende... Se o curso tiver qualidade, sim... Mas, existem uns que enviam um material sem profundidade, são famosos e recomendados por denominações que os detêm ou recebem apoio. Muitos fazem tais cursos e estão crentes que fizeram um excelente preparo. Isto tem levado à desvalorização da Teologia, pois muitos não crescem o suficiente para mudarem de mentalidade. O incrível é que chegam até se gabarem e a desprezar os demais cursos. Também, há o fator aluno. O aluno tem que ter autodisciplina para estudar sozinho e, infelizmente, muitos não têm.

A abertura de cursos teológicos, indiscriminadamente, é outro fator que levam os cursos a serem desvalorizados. Qualquer igreja ou pastor abre um curso de teologia. Por todos os lados abrem-se seminários incompetentes... Hoje há seminários de grande tradição em profunda crise financeira por falta de alunos e há os que não merecem nenhuma consideração pela sua qualidade e, mesmo assim, possuem alunos. Ter aluno não quer dizer necessariamente estar qualificado. Muitos seminários tradicionais se mantêm por força da política denominacional que usam cabrestos nas ovelhas para enviar aos seus seminários. A concorrência desleal entre igrejas e seminários tem matado não, apenas instituições, mas, também, a alma de muitos líderes bem intencionados e capacitados. Eu conheço um seminário que tem 60 matérias atualíssimas, aulas presenciais, aulas de hebraico e de grego o ano todo, os professores são bacharéis e um mestre, é gratuito e aberto para toda comunidade. No entanto, há muitos anos a concorrência desleal trabalha para destruí-lo com mentiras. Tem um destes concorrentes, quando chegou na cidade pôs um carro de som anunciando que era reconhecido pelo MEC, se estabeleceram numa igreja de status e logo ganharam valorização. Pena que não era verdade.... Todavia, promoveu descrédito na outra instituição. O curso deles é um final de semana por mês, a aula de hebraico uma vez na vida, tem umas vinte matérias e é pago. Há um outro que só tem aula num sábado e só tem um professor. Todos estes dizem ser melhor do que o outro que fora citado primeiro. Isto é falta de ética. Não sabem atrair para si alunos, sem destruir o trabalho dos outros... É por essas coisas que que não temos mais inocência que o curso de Teologia é algo valorizado. Obreiros com “teologia” e sem ética. Desta forma não teremos nenhum futuro. Aí vêm os incautos e dizem: “Teologia??? Para que teologia??? Eu tenho chamado de Deus, portanto não preciso de teologia. Deus me vocacionou e isto basta. Teologia é para teólogo, eu sou pastor.” Digo que se você já viu algo parecido, não se desespere. Isto é o retrato da ignorância, da preguiça intelectual, do desleixo, do egoísmo e do espiritualismo. Este conceito de espiritual passou longe da ideologia cristã. Como pode um cirurgião de coração achar que basta ter vocação para ser cirurgião e não estudar medicina com suas especialidades? Fazer cirurgia de coração só por golpe de vista ou experiência de vida não basta. Imagine a pessoa abrindo o coração do paciente e pensando:”Meu Deus para que serve esta veia? Se eu cortar esta veia será que vai resolver? Seja o que Deus quiser...” Têm muitos pastores que não estão percebendo a importância do seu ministério e é por isso que dão desculpas farrapadas como esta: “Não tenho tempo para teologia, só tenho tempo para joelhologia”. Com certeza consagração é fundamental, mas esmerar e honrar o seu ministério com conteúdo consciente é fundamental.
 
Qual a importância da Teologia? Resposta: É a mesma importância do ministério. O ministério, seja com Teologia tecnizada ou empírica , sempre terá esta necessidade. Um líder é um referencial e os seus liderados espelham e reproduzem o que ele ensina a respeito de consagração, relacionamento com outras denominações, valorização da teologia, liturgia, fé, política, ecologia , cultura, sociabilização, trabalho, educação religiosa, economia, prosperidade, casamento, criação de filhos, cura, psicologia, filosofia, etc. Simplesmente, não existe líder mais influente do que um líder religioso. Por que um alto grau de alienação política no meio dos evangélicos? A resposta é simples, porque uma boa parte dos seus lideres são altamente alienados. Basta ver que a maioria em massa não fez manifestação contra a PLC 122/2006. Um bom curso de teologia gera reflexão e não mera imitação inquestionável. Como uma pessoa pode fica dia após dia, meses após meses e anos após anos sem receber o conhecimento para repassar aos seus ouvintes? É como digo: É A PREGUIÇA INTELECTUAL E O COMODISMO CARNAL!! Temos pessoas que nem tem o primeiro grau e já são líderes(pastores). Recentemente, um senhor entrou no meu pequeno comercio se identificou como pastor, e no decorrer deste encontro, percebi que era semi-analfabeto. Isto é um absurdo! Eu sou favorável que aqueles que não têm um curso de Teologia não venham obter autorização para registrarem igrejas ou liderá-las. Se eles não têm a escolaridade devida e nem o curso de teologia, que paguem o preço estudando. O governo oferece formação escolar de graça e há cursos de teologia gratuito. Enquanto isto os outros que pagaram o preço, venham receber os privilégios. Todavia, em muitos casos, não é assim que acontece. Na atualidade a Teologia é desvalorizada, pois nem aqueles que mais precisam a valoriza. Só que aqueles que a valorizam e pagaram o preço para tal, não podem mais aceitar esta situação. A Palavra de Deus nos ensina que, quem não se julga será julgado. Nós evangélicos somos julgados pelos outros porque não nos julgamos a nós mesmos. Temos que valorizar o que somos. Não dar mais para agüentar esta situação esdrúxula. Qualquer um pode abrir a boca e dizer: “Deus tocou no meu coração, falou-me em visão ou em profecia e me chamou ao ministério para abrir uma Obra.” Não é bom e nem justo que não seja cobrado dele o preço devido para exercer o ministério. Os próprios evangélicos deveriam lutar pra levarem às câmaras publicas que se criem leis com critérios devidos. . Esta situação é vergonhosa e a Teologia está em desonra. Digo, principalmente, o nosso Deus está em desonra Lembrem-se, quem não se julga, será julgado. Não deixemos que os outros venham tomar as iniciativas aos quais são de nossa responsabilidade. Sejamos cabeça e não cauda. A Teologia é instrumento do Espírito Santo para construção duma igreja saudável. Vamos levar a sério o ministério. Quem quer ser chamado de pastor que seja chamado por Deus e reconhecido pelos homens pela sua qualidade de caráter, consagração e formação teológica. Quem quer ser pastor que pague o preço voltando à escola para estudar. Desta forma glorificará a Deus, honrará a consciência de que a OBRA DE DEUS é importante demais para ser feita de qualquer jeito. Os preguiçosos não glorificam a Deus. Se há alguém que não esteja gostando do meu discurso: eu lamento... Você precisa mudar para glorificar a Deus e se fazer merecedor do ministério em servir ao povo de Deus.
A Teologia tem o desafio de alcançar uma valorização integral. Os obstáculos são vários, tanto direta e indiretamente. Não basta ter um bom curso de teologia e não basta a lei que venha cobrar o curso de teologia aos lideres eclesiásticos. É necessário avançarmos no papel da Teologia.
 
Quando ocorrem encontros de debates públicos são convidados pessoas de todas as formações acadêmicas, menos os teólogos. Quando o governo convida instituições para debate duma questão social, todos os tipos de instituições são convidadas, menos as de cunho teológico. O teólogo tem muito a contribuir fora dos parâmetros eclesiásticos. Com tal potencial, eu pergunto: Por que não se lembram de nós? Respondo:
1 - Porque não nos fazemos presentes nas iniciativas de relações publicas;
2 - Porque não transformamos o nosso discurso numa linguagem conhecida no mundo secular: CULTURA;
3- Porque não transformamos a concorrência entre igrejas e entre seminários em cooperação;
4- Porque não lutamos para introduzir um espaço maior no mercado de trabalho, inclusive, nos concursos públicos. Porque um teólogo não poderia concorrer para lecionar em filosofia ou em historia, etc.?


“Esta crise vai passar, porque todos nós lutamos para o pretérito perfeito ser conjugado.
A Teologia não precisa ser a rainha das ciências,
Ela precisa do seu espaço.
Do seu espaço ocupar em honra e justiça,
Para ao seu papel revolucionar mundos.
Mundos que precisam de THEOS em perfeita consciência da LOGIA”.

“Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR relaxadamente!”

Jeremias 48:10

Autor: Pr. Marcio Gil de Almeida